Dor, secura, desconforto: por que só hormônio não basta

A abordagem médica tradicional para a menopausa frequentemente se concentra em repor o que foi perdido: os hormônios. Para a secura vaginal e a dor na relação (dispareunia), a Terapia Hormonal (TH) local é frequentemente a primeira linha de defesa. E ela ajuda, mas raramente é a solução completa. A razão é simples: o problema é multifatorial. 

A TH tópica melhora a espessura e a vascularização do tecido vaginal, combatendo a atrofia. Isso é fundamental. No entanto, ela não apaga a memória da dor. O sistema nervoso é plástico e aprende. Se toda tentativa de toque ou penetração foi associada a dor por meses ou anos, o cérebro cria um circuito de alerta. O corpo antecipa a dor e se contrai, tornando a dor uma profecia autorrealizável. O hormônio não desfaz sozinho esse condicionamento neural. 

A TH é como regar um jardim ressecado. É essencial para recuperar a terra (o tecido vaginal). Mas se as plantas (os nervos) foram pisoteadas e a cerca de proteção (a musculatura do assoalho pélvico) está frágil, apenas regar não trará o jardim de volta. É preciso também descompactar a terra, replantar e consertar a cerca. 

O tratamento eficaz requer uma estratégia integrada:

Camada 1 – Hormonal: TH local para melhorar a saúde do tecido.

Camada 2 – Neural: Exercícios de dessensibilização para “reensinar” os nervos que o toque não é ameaça.

Camada 3 – Muscular: Fisioterapia pélvica para relaxar a musculatura hipertonificada pela dor crônica.

Camada 4 – Psicológica: Terapia para lidar com a ansiedade, o medo e o luto que acompanham a dor.