Perdi a libido ou perdi o caminho até ela?

“Eu perdi a minha libido, ou… sei lá, não é mais a mesma coisa de antes.”
Essa é a frase que mais ouvi das mais de 700 mulheres que acompanhei na Europa nos últimos quatro anos.
Mas será que a libido realmente se perde? Ou será que o que se perde é a rota até ela?
E, antes de tudo, o que é libido de verdade?

Libido: um estado vital
A libido não é um objeto que pode desaparecer. A libido é um estado — uma pulsação de vida, modulada por hormônios, pelo sono, pelo ambiente, pelo estilo de vida, até pelo contexto sociocultural.
Não se trata de perder, mas de se afastar desse estado por mil e uma razões.
Na verdade, o que muda na menopausa — e para o resto da vida — é o acesso.

O desejo mudou de forma
Antes da menopausa, era comum que o desejo surgisse de maneira espontânea, quase automática.
No climatério, na menopausa e na maturidade, ele se transforma em responsivo: não some, mas deixa de ser o ponto de partida. O corpo não liga sozinho; ele responde quando recebe o estímulo certo.

O risco da interpretação errada
Quando uma mulher acredita que “perdeu a libido”, cria-se um descompasso doloroso. Afinal, como perder um estado que pertence ao próprio corpo?
O que acontece é o afastamento dessa pulsação vital, muitas vezes confundido com falha pessoal. Esse mal-entendido gera afastamento da intimidade, menos estímulo e, por consequência, menos resposta — um ciclo de frustração que alimenta a culpa.

A saída não está em “recuperar o que se perdeu”, mas em descobrir novos acessos.
Isso significa:
Abandonar a ideia de que só o desejo espontâneo é válido.

Permitir-se entrar na experiência sem a obrigação de já estar com vontade.

Confiar que o desejo e o prazer podem florescer no processo — e não apenas antes dele.

Quando essa mudança de perspectiva acontece, a intimidade deixa de ser performance e volta a ser descoberta. A libido não desapareceu: ela continua presente, pedindo apenas novos caminhos até ela.