Um abraço que parece agulhas. Uma calcinha que soa como lixa. Um beijo que antes arrepiava e agora irrita. Essa é a realidade silenciosa de milhares de mulheres na perimenopausa e pós-menopausa — e que quase nunca é falada em voz alta.
O nome médico é Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM). É uma condição que começa de forma sutil — um olho seco aos 45 anos, um desconforto aparentemente banal — e pode evoluir para um cenário devastador: dor intensa na relação sexual, secura extrema, infecções urinárias repetidas. Muitas mulheres descrevem a sensação como “fazer amor com facas dentro do corpo”.
Eu mesma vivi essa experiência. Aos 45 anos, fui ao oftalmologista porque comecei a enxergar pior. Ele me receitou meus primeiros óculos e um colírio para aliviar a secura ocular. Mas aquele médico, incrível, disse sem hesitar: “isso é menopausa”.
Naquele momento, eu não conectei as coisas. Não associei o olho seco à vagina seca. Se tivesse feito essa conexão, se algum ginecologista tivesse me alertado, eu teria começado a tratar muito antes. Em vez disso, só fui procurar ajuda aos 53 anos — quase oito anos depois, quando o quadro já estava muito pior.
Uma secura no olho não parece grave. Uma secura vaginal, “resolvida” com hidratante ou lubrificante, também pode parecer simples. Mas não é. Esse é o sinal precoce de uma condição que, se ignorada, avança até inviabilizar qualquer intimidade sem dor.
A boa notícia é que a SGM é tratável. Existem protocolos médicos claros e seguros — descritos nas guidelines internacionais mais recentes — que devolvem saúde aos tecidos e permitem viver sem dor. O problema é que poucos médicos alertam as mulheres. Muitas chegam ao consultório sem saber que essa é uma condição médica, não um destino inevitável.
E foi nesse vazio que desenvolvi o meu método. Se não fossem as minhas práticas, eu mesma não teria conseguido ter vida íntima durante esses anos. Porque há períodos em que nenhum toque genital é possível. E, ainda assim, o corpo inteiro pede prazer. Foi nesse desafio que adaptei todo o conhecimento da sexologia somática para a realidade da SGM.
Criei técnicas sutis, neurosensoriais e neuroprotetoras que devolvem a sensação ao corpo inteiro, mesmo quando a genitália não pode ser estimulada. Técnicas que não apenas aliviam, mas reúnem casais em vez de separá-los — porque o prazer deixa de ser uma luta contra a dor e volta a ser um espaço de encontro.
A SGM é uma questão de saúde pública. Afeta cerca de 75% das mulheres no mundo, mina relações, destrói autoestima. Mas não é um destino. Tratar cedo é crucial, porque os sintomas não desaparecem com o tempo. Eles só avançam.
Reconhecer a síndrome, buscar orientação médica baseada em evidência e adotar práticas seguras para reacender o corpo são passos que devolvem às mulheres não só saúde íntima, mas também dignidade, vitalidade e a possibilidade real de viver prazer sem dor.
Referências citadas:
American Urological Association. Guidelines on Genitourinary Syndrome of Menopause (2025).